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segunda-feira, 7 de abril de 2014

MINHA POESIA
Ronaldo Araújo

Deixo esvair de mim meus versos
poemas impulsivos

A poesia feito labirinto
que aprisiona a alma
acalanta
agita
espanta
sangra
nasce poesia
se eterniza
poesia

A poesia feito o silêncio
que purifica o sentimento.
que renova
intensa certeza
de nascer poesia sempre
sem nascer
sem morrer 
ESSÊNCIA
Ronaldo Araújo

de tudo sinto a essência

a força bruta, o espírito
e quando não assimilo a luz
eternizo o sentimento perdido

às vezes, o que me fere os olhos
me fere a alma

e ela pressente o contexto
cria o pretexto
e as letras choram, calam
gritam


e nada mais exteriorizam

as nuvens escrevem
SINAIS DOS TEMPOS OU DISSOLUÇÃO DO BEM
Ronaldo Araújo

Meus olhos piscam
busco ir adiante
diante de carros, buzinas, bundas,
que me impeçam
o medo faz minha cabeça
vazia
morte, morte, morte
que nunca vence a vida
que se refaz
a cada instante na maternidade

barriga farta de sonhos
meninas se lançam
precocemente
avanço o sinal

sou outro daqui a cinco segundos
nascido do exato momento do novo parto
meus olhos piscam diante
vitrines, vidraças, biquínis, desgraças
homem néscio
mulheres em parto.
Estou entre os sinais dos tempos
ou dissolução do bem.
Mas, sigo adiante


EXCLUSÃO EXCLUSIVA
Ronaldo Araújo

Não me escutem depois do meio dia
a ansiedade campeia espaços
minha mente vaga

não me levem a sério depois de meia vida
não quero ser elogiado depois de inerte
as paredes caíram defronte meus olhos assombrados
não me esperem depois de amanhã
o que está entre o agora e o futuro
ninguém sabe
meu gozo é úmido, orvalho aguando a esperança
silêncio se contrapondo às palavras
perplexidade
o dia parindo o medo e o medo parindo o escuro
perplexidade
olhares cruzando a rua
e a rua cruzando os ares
ninguém perplexo, ninguém indignado
crianças e velhos mendigam nas calçadas frias
perplexidade nenhuma
nenhuma cidade sente
a úlcera da exclusão é na alma.



DESMUNDO
Ronaldo Araújo

todo cego ver
isso não é mundo
é desmundo
imundo
desmanche
desencanto
desintegração da vida humana

todos que defendem essa ordem social
são cínicos
algozes de milhões de famintos
executores das desigualdades capitais
todos que pregam essa liberdade parcial
são oportunistas
imorais sem idoneidade ética
armazenam para si o que é de outrem
essa ordem social é no mínimo equivocada
mundo
revirado
imaginário desmundo
da insensatez
não seria imundo
explorar o mundo
destruir o mundo
devassar o homem como mercadoria?

todo cego ver
isso não é mundo
é desmundo
imundo
desmanche
desencanto
desintegração da vida humana.



INCOMODE-SE
Ronaldo Araújo

não precisa trancar os ouvidos
há gritos que já estão nas suas células
você ouve por dentro
o que fere à ética
é não querer ouvir a voz que grita no cérebro

incomode-se
sinta remorso
vergonha de se postar como parede

incomode-se
molde-se ao vento
que a cada momento limpa e transforma o limo
expulsar o nocivo
sonhe
alimentar os anseios nobres
desdobramentos lógicos
incomode-se e sonhe
sonhar varre e limpa a alma


SANGRAMENTO
Ronaldo Araújo

olhar para o incerto, querer o inatingível
desdobramentos fúteis
viajar por pensamentos eróticos
desejar o óbvio da mulher “caliente”
desdobramentos carnais
esvai-se em mim planos notívagos
esvai-se em mim loucuras que se desdobram
em minhas longas noites não quero viver
as mesmas coisas somente
quero o-não-óbvio, o-não-comum
de nada adianta sentir o gosto do que é insosso
desgastado, dilacerado pela insipidez
não quero viver o momentâneo
sou imortal, luto por elos fortes
que me entrelace a tudo que for novo
do fundo da ignorância acusam nosso instinto como mau
o instinto é animal e o animal age por instinto
somos homens, sim, mulheres, sim
mas, somos todos animais, duplamente animais
forte nosso instinto assume, aflora
como a alma do animal regido pela alma de outro animal
não humano nesse mistério selvagem, psíquico
não nos esqueçamos dos nossos ancestrais

MARGINAR
Ronaldo Araújo

marginar 
caminhar à margem em busca
do novo
marginar
espreitar novos caminhos
não mendigar
ou aceitar a miséria do imperialismo

marginar
olhar de fora
estar, de certa forma, isento
do mundo pensado por dentro
pelos mesmos idiotas de centro
marginar é enfrentamento
não contra a sociedade
ou contra alguém ou alguma vã filosofia

marginar
exercício de não seguir o que é imposto 
pelo descaramento óbvio dos interesses da aristocracia

marginar
seguir pela margem
digna de acolher os insatisfeitos
marginalizados


SÓ HOJE
Ronaldo Araújo

hoje
e só hoje
quero ver as pessoas como seres de luz

depois
ah, o depois fica para depois
adivinhar é perigoso quando se pretende crescer

a mim muito interessa o que disseram os sábios
para que eu possa seguir sendo eu mesma
pessoa ínfima
nesse oceano de grandes vultos

não almejo se não um pouco de calor e de frio
para transmutar o meu humor

o que me cobram é pouco para minhas dívidas
por isso, revolto-me diante de tanta hipocrisia
as pessoas retêm o que não lhes pertencem

mas hoje
só hoje
quero ver as pessoas como seres de luz

LEI E VERSOS
Ronaldo Araújo

nada se fez se faz ou se fará sem a vontade do homem
é lei
os dias nascem melhores ou piores devido nossas mãos e almas
não adianta clamar por deus
se o seu poder está em nossas vontades
as folhas brancas aceitam tintas coloridas das esferográficas manipuladas pela mecânica humana

no papel branco surgem leis, decretos, normas, portarias ou versos
os chefes dos gabinetes despacham aos chefes dos gabinetes com os cumprimentos dos seus superiores que solicitam aos superiores para que nada mude de ordem nessa desordem
o diário oficial é publicado de forma insalubre para que os cidadãos não tomem conhecimento
aliás, a eles não foram dadas oportunidades, sequer de aprenderem a ler
e as leis ficam assinadas até que outra lei seja criada
até que outra lei seja pensada
no intuito fortuito de não mudar nada

que excelente se a vida fosse ordenada por poesia.




ESSENCIAL
Ronaldo Araújo

estamos escravos de nossas algemas
os grilhões que nos acorrentam
foram todos engendrados por nossas mentes adoentadas
                       
faz tão bem caminhar pelo bosque das inovações
quem sabe alguém teria coragem de retirar as correntes que nos impedem de ver o que é essencial à alma
o que é essencial é a poesia



MEU CANTO
Ronaldo Araújo


canto

porque minha alma é canto e encanto

de canções nascidas na noite e no dia

sorrateira como a alegria

vida da criança tímida.

canto porque sinto em cada canto

a alma de todas as gentes

em sorrisos ou em gritos.

canto as noites de lua cheia

com a mesma força que repudio os fuzis disparados

em israel ou no iraque.

canto as estrelas que luzem as mentes

mesmo fechadas em puro egoísmo.

canto as flores e os jardins do jalapão

belos, selvagens, aromáticos

e plenamente primitivos

como sua gente feliz.

canto minha alma

porque prefiro cantar o êxtase e as dores

de todos os homens

de boa ou má vontade.

canto porque me sinto cidadão do mundo

chama universal para arte de cantar a vida.


HOJE
Ronaldo Araújo

hoje não vou ler os jornais.
quero abrir os armários do coração
expulsar os detritos gigantes do meu passado

hoje é dia de limpeza
quero jogar fora os desatinos
esquecer as fotografias pobres
varrer meus porões mesquinhos

quero minhas retinas límpidas
lubrificadas pelas lágrimas castas
do alvorecer radiante

hoje não vou ler as revistas.
nem considerar o passado.
não temer obstáculos
nem atenuar o sentido das palavras.

hoje quero começar o dia novo.
início de um novo tempo
que não se chamará ontem
porque o novo é sempre presente.

tenho certeza que o passado não voltará
nem o futuro acontecerá antes de seu tempo.

hoje, faço-me novo
com todas as coisas novas
porque não vou ler os jornais do passado.

CONTEMPORÂNEO

Ronaldo Araújo

sou contemporâneo

sou ou não sou
eis que não há uma questão
mas, várias

meu verso não lido
meu grito não dado
meu livro não editado
e a dúvida do que sou:
poeta ou marginal?

sou ou não sou contemporâneo?
minha poesia existe aqui ou no futuro?
por que sou banido
quando busco estar contido?
meus versos não são fortes
apenas primam pela essência
da não banalizada arte prima.


MARGINAIS

Ronaldo Araújo

colocaram-me
colocam-nos à margem
dos bairros ricos, aristocráticos.

colocaram-me à margem da BR
nas confináceas da periferia absurdamente miserável

colocaram-me na mira da polícia
como quem trafica drogas
quando distribuía versos pelas ruas.

calaram-me nos guetos
calaram-me nos balcões das livrarias torpes.

colocaram-me a cruz e o calvário
fizeram-me feio, monstro.
sordidamente fecharam-me as portas
porque escrevi versos rebeldes
palavras inquietas
preguei idéias instigantes.
por isso, e por tudo,
fizeram-nos marginais: mim e minha poesia.


AMOR INCONDICIONAL
Ronaldo Araújo

amo a poesia
incondicionalmente
ah, como amo a poesia!

amo-a tanto que vivo em êxtase
poetiso e sou poetisado
cada momento
porque me enleio
e me deixo ser envolto por sentimentos
idílios poéticos.
ah, como eu amo a poesia.

amo a poesia como a primeira,
última e única forma de ser
amo o amor
ser existente somente na poesia



Ansiedade


Estou prestes a me desvalir
Cansei das flores
Caladas pela palidez do tempo

Olhai
Nem os lírios sorriem
Nem os crisântemos choram

Que vida é essa descorada?
Será por ventura a solidão
Fugindo para o precipício?

Sou um inválido abandonado no jardim
Sem cores
Sem açoite
Sem viço.



 BRINCADEIRA

Não sei por que me presto
Brincar com as palavras
Sonhar com o silêncio
Imaginar o impossível

Não sei
Não concebo
Não pressuponho

Quem sabe anseios
ignorados


Rampa

 o que me leva à rampa

o íngreme
o desprovido
anseio de alcançar

o ar



 O mar

Estou entre o mar e o mar

O mar de sal e o mar de fogo
O mar de sonho e o mar de vazio
O mar que canta
o mar calado
como a brisa e a espuma fria


 Poema


Ontem um poema distraído me sequestrou

Não leio o poema

Ele me lê
E me expõe como a terra o rio

A poesia é sêmen de vida
o poema gozo
vadio



quinta-feira, 22 de abril de 2010

domingo, 4 de outubro de 2009



PRECISAMOS DE PAZ, NÃO DE COMODISMO

Ronaldo Araújo

Tenho visto muita falácia sobre a paz que necessitamos nos dias de hoje.

E também tenho me perguntado se os poderosos querem a mesma paz que as pessoas humildes querem.

A paz que o mundo precisa é aquela que garante a justiça e a dignidade dos oprimidos, não somente a segurança dos opressores.

Para que tenhamos a paz verdadeira precisamos criar uma nova ordem social.

Temos que sair do nosso comodismo e construirmos uma nova sociedade.

Não podemos ver a paz simplesmente como ausência de reações de grupos ou pessoas diante de decisões arbitrárias e imorais.

A paz não é comodismo.

A paz é a presença do respeito a todos os seres humanos e de suas culturas.

Não haverá paz enquanto houver um ser humano violentado pela negação dos seus direitos.

Se queremos a paz, comecemos a construir uma nova mentalidade onde possamos priorizar a decência e a inquietude diante das injustiças.

sábado, 3 de outubro de 2009



FLOR DO CAMPO (Homenagem à madrinha Izidorinha de Santa Filomena)
Ronaldo Araújo

Você é flor do campo
Você é luz e encanto
Como o alecrim.

Você é mais que um sonho
É nuvem de cetim
É canto de cigarra
Perfume de jasmim.

Cantiga de ninar
Criança quer dormir.

E quando sua voz
Ecoava pelo vento
O seu cantar voava
Num doce carrossel
Levava nossos sonhos
Da terra até o céu.

Você é mais que um sonho
É nuvem de cetim
É canto de cigarra
Perfume de jasmim.
Cantiga de ninar
Criança vai dormir.