MEU MAR É MEU AR
Ronaldo Araújo
Respiro profundo esse ar
Olhando a imensidão do mar
Profundo.
Sorrio
Em ondas calmas
Caminho pela areia fina
Da praia em cio.
Meu ar é esse mar
De brisa mansa
E espumas
Brancas como minha esperança.
E como um cavalo alazão
Vou em galope
Seguindo rasante
O meu mar que respiro.
FLAGRANTE
Ronaldo Araújo
Flagro no passeio público o vazio
Praça, prédios e saudades do meu rio Pajeú
Este forte é Fortaleza de Assunção
onde as manhãs são cristalinas
nas retinas do meu olhar.
Eu vou procurando a cidade velha
Bela, de frente pro mar.
As ladeiras que me levam trazem a brisa
Quero me encontrar ninguem me avisa
Que a Leste-Oeste decepou de vez meu Arraial.
Flagro o menino que chora sem ter mãe
E a velha que grita e se apavora sem ter um amanhã
E as centenárias histórias desse chão
São flagrantes de vidas que se vão
Sem ter voz.
Eu olho lá, minha ponte velha
Minhas longarinas
Cadê meu coqueiral
Já se foi o tempo que eu brincava
Pois, a praia era o meu quintal
minha infancia, minha vida, meu fim
ai, como adoro o sertão
nao poderia ser feliz de outra maneira
em uma vidinha qualquer cercada de cimento e gente falsa e infeliz,
como vivem vocês da grande cidade.
MINHAS RAÍZES
Ronaldo Araújo
Minhas raízes são todas as pessoas,
todos os lugares
todos os momentos,
todos os lampejos.
Se me isolo
apago as fagulhas que me entranham.
Minha vida é o cerne
O âmago
Do encontro com os outros.
LEMBRANCEIRAS
Ronaldo Araújo
Quem se lembrar de mim
Também vai se lembrar do meu sertão
Lá do meu pé de serra, meu baião
Do canto agourento da acauã
Cantando na intensa escuridão.
Sou a oiticica que nunca seca
Trazendo esperança pro meu torrão
Sou mandacaru florindo na seca
E anunciando chuva no sertão.
Sou o fruto da ingazeira
Que dá sombra e mata a sede.
Eu sou um menino no banho de açude
Olhando a vida nessa imensidão.
Sou um vaqueiro querendo entender
Essa triste sina que assola o sertão.